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04/05/2022

Entre o limite e a liberdade

Eu estava caminhando perto de um riacho e me alegrando com a beleza da grama verde. De repente, percebi que algo estava se mexendo. Esperei um pouco e quando olhei com mais atenção, vi que era um peixe. Eu perguntei a ele: “Você não deveria estar dentro da água?” Ele me respondeu: “Normalmente sim, mas eu sou um peixe que quer viver livre e não preso num riacho”. E ouvi mais uma vez: “eu quero ser livre e saber realmente o que é vida...” disse o peixe silenciosamente e acabou morrendo.
A liberdade para os peixes só existe dentro da água. Quando ele deixa o seu habitat natural, a água, certamente ele morrerá.
Nós, humanos, também precisamos viver dentro de limites. Quando não temos mais ar para respirar, é certo que morreremos, assim como no exemplo do peixe.

A LIBERDADE PRECISA DE CONCENTRAÇÃO
Vivemos em uma sociedade consumista, que geralmente acumula e adquire muito mais do que precisa. Essa abundância de bens e coisas pode fazer com que as crianças sejam privadas da liberdade de criar, descobrir coisas novas, princípios e valores, novos sonhos e brincadeiras ao ar livre. Aprendendo em casa, com os pais, a serem crianças responsáveis, que sabem quais são suas tarefas e que sabem conviver em grupos, facilitará a convivência em outros meios. Muitas crianças, às vezes não conseguem seguir as regras nos jogos, brincadeiras e outras atividades. E quando vão para a escola, logo os professores descobrem que algumas são diferentes de outras da mesma idade, porque obviamente não aprenderam a cumprir tarefas. As crianças precisam de diversos impulsos e espaços adequados para desenvolverem sua cognição. E quanto mais estes forem ofertados, melhor. Esta liberdade, porém, precisa ser concedida de maneira sensata e sustentável, principalmente às crianças pequenas, que precisam da orientação de um adulto para se concentrar em uma tarefa. Mas, significa também que muitas atividades precisam ser negadas, esperando o tempo apropriado, conforme a idade da criança.
Um jovem disse para seus pais: “Eu sou grato a vocês por terem me comprado um computador e controlado seu tempo de uso, senão eu jamais iria me concentrar nos meus instrumentos musicais e hoje estou muito feliz por isso”.

A LIBERDADE PRECISA DE LIMITES
Crianças e adolescentes precisam ser orientados pelos seus pais quanto aos limites de liberdade, do mesmo jeito que Deus conduz seus filhos à liberdade. Isso só pode ser experimentado por aqueles que realmente creem. E essa liberdade só pode ser vivenciada quando estamos ligados ao Criador.
Se Deus criou o Seu povo e ainda hoje exorta as pessoas a obedecerem seus Mandamentos, Ele não está fazendo isso para tirar nossa liberdade, mas para que achemos o caminho certo e seguro para conduzir nossa vida. Em 1 Coríntios 6.12, o apóstolo Paulo afirma: “Tudo me é permitido, mas nem tudo convém. Tudo me é permitido, mas eu não me deixarei dominar por coisa alguma”.
Uma pequena história, que não me lembro mais onde encontrei, pode nos ajudar a esclarecer melhor o assunto. No topo de uma montanha, havia um grande jardim onde as mais belas plantas cresciam. Havia também uma cerca alta ao redor do jardim. Um dia alguém disse: “o que esta cerca está fazendo, impedindo que as plantas se espalhem ainda mais”. Dito e feito, e a cerca foi derrubada. Quando o trabalho terminou, percebeu-se quão perto a cerca estava do penhasco. As plantas então se encolheram e com medo, se juntaram no centro do jardim. E a antiga felicidade do jardim se transformou em melancolia.

A LIBERDADE PRECISA DE REGRAS
Deus deseja que nós sejamos pessoas livres e nós queremos liberdade sem limites, sem regras, sem estrutura, nenhuma ordem. Mas, precisamos de ordem, de estrutura, de limites e regras, pois só assim o ser humano pode ser livre e ter paz para ser criativo.
“Liberdade tanto quanto possível, limites tanto quanto necessário” são palavras de Maria Montessori.
As crianças se desenvolvem melhor sob uma estrutura ordeira, para se tornarem melhores pessoas. Em proximidade amorosa com seus pais e outras pessoas, elas descobrem o mundo. Essa experiência lhes dá coragem para enfrentar os desafios do mundo e conquistar o seu espaço. Ao mesmo tempo, elas aprendem o que o filósofo Herbert Spencer afirmou: “a liberdade de um indivíduo termina onde começa a liberdade do outro”. Na verdade, os adultos devem ser referenciais para as crianças, cumprindo também as regras e obrigações, como: “mas você prometeu que...”. Promessas devem ser cumpridas para que as crianças adquiram confiança nelas. Se os adultos não vivem aquilo que eles esperam das crianças, cria-se um problema de autoconfiança, e fica difícil a prática da disciplina, pois elas entendem que podem fazer o que quiserem e quando bem entenderem. Que bom quando se consegue estabelecer uma relação de confiança entre pais e adultos com crianças e adolescentes.

CRIANÇAS FORTES PRECISAM DE ADULTOS FORTES
Michael Winterhoff escreve em seu livro “Por que nossos filhos se tornam tiranos”: “você encontra adultos que falam sobre as crianças do jardim de infância ou dos primeiros anos escolares: meu filho tem um temperamento forte, ele quer impor sua vontade, porque ele sabe o que quer.” Esta descrição parece dar à criança sua própria personalidade num estágio inicial de sua vida, o que não parece certo, pois o desenvolvimento da personalidade começa de fato aos oito ou nove anos de idade. O que os pais confundem com personalidade são comportamentos simplesmente infantis que toda criança mostra nesta idade. Portanto, as crianças sempre parecem “obstinadas”, já que psicologicamente elas ainda vivem na suposição de que estão sozinhas no mundo e o que importa é a sua vontade. Essas crianças ainda não aprenderam a ver o mundo exterior e outras pessoas como um limite para seus próprios olhares. O problema é que muitos pais, professores e educadores perderam o contato para transmitir esse limite às crianças, o que reforça a suposta personalidade e permite que aquelas características se tornem ainda mais fortes.
As crianças só vão considerar o mundo exterior a partir do terceiro ou quarto ano escolar e no convívio com outras pessoas irão reconhecer as limitações do seu próprio “eu”, que ainda precisa da ajuda e intervenção de um adulto no seu aprendizado. Se você permitir que a vontade da criança prevaleça sempre e não colocar limites, elas continuarão presas à primeira infância e terão dificuldades de compreender que no dia a dia sempre encontrarão fronteiras, cercas, muros e limitações que fazem parte da vida.
Isso seria uma pena, porque afinal, as crianças, bem como os adultos, podem experimentar o que significa ser livre, seja um peixe dentro d’água, ou um filho de Deus nas mãos do Pai Celestial: SER LIVRE DENTRO DE BONS LIMITES.
Que Deus nos ajude a sermos adultos fortes, que conseguem estabelecer limites com amor e exemplo, para criarmos crianças fortes.

Autor: Klaus Matthiesen
Tradução: Flávio Gustavo Mueller
Adaptação Joseane E. M. Dutra

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